terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Lixo tecnológico

(Gana)

Atrás, fica um campo de cinzas finas, pintalgado de lampejos dourados e verdes – os pedaços quebrados e pontiagudos de placas de circuito. Vejo agora que o fumo emerge não de uma, mas de muitas pequenas fogueiras. Alguns atiçam as chamas com paus; outros carregam nos braços grandes quantidades de cabos de computador de cores berrantes. Na sua maioria, são crianças.
Karim conta que cuida destes fogos há dois anos. Retira um emaranhado de fio de cobre do pneu velho que usou como combustível e rega com água a massa informe que chia, deixando-a numa amálgama. Uma vez libertado pelo fogo do isolante retardador da combustão que o revestia, o fio poderá render 70 cêntimos junto de um comprador de sucata metálica.

Volto a este mercado dias depois. Perto de uma pilha de cinzas semelhante, localizada sobre uma angra de onde as águas escorrem para o Atlântico após cada chuvada, Israel Mensah, um jovem com cerca de 20 anos.
Todos os dias, os vendedores de sucata trazem para ali grandes carregamentos de equipamento electrónico velho. Israel e os seus sócios compram alguns computadores ou televisores. Separam os elementos deflectores de cobre dos tubos de imagem, juncando o chão de fragmentos de vidro com teor de chumbo (uma neurotoxina) e de cádmio (um carcinogéneo lesivo para os pulmões e rins). Retiram as peças que se podem revender, como drives e chips de memória. Então arrancam todos os cabos e queimam o plástico. Israel vende o cobre arrancado de uma carga de sucata para comprar outra. O segredo para fazer dinheiro é a rapidez, não a segurança. Ali perto, caixas de monitores quebrados flutuam na lagoa. Amanhã, as chuvas empurrá-las-ão para o oceano.
Este é o destino da tecnologia obsoleta que deitamos fora...

Texto de Chris Carroll; Fotografias de Peter Essick

in National Geographic

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